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Resenha de Lições Amargas: Uma História Provisória da Atualidade

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Livros do Gustavo Franco: “Lições Amargas” e “A Moeda e a Lei”

“Lições Amargas: Uma História Provisória da Atualidade”, de Gustavo Franco é o retrato da pandemia de COVID-19 feito por um dos economistas mais importantes da história Brasileira. Nele o autor registra e analisa o que foi e o que não foi feito, e tenta explicar como líderes podem ficar cegos com suas ideias e agir contra o seu próprio interesse e daqueles que governam.

O livro é curto e não aprofunda nenhum dos temas que menciona, mas acho interessante como um registro. Na correria do dia a dia e na sucessão de absurdos que vemos nos jornais, esquecemos fatos iconicos como a apreensão de R$ 51 milhões de reais em caixas (no capítulo sobre dinheiro em espécie x dinheiro digital), a foto do presidente oferecendo cloroquina a uma Ema, e tantos outros.

Senti falta de um pouco mais de enfase nas críticas ao atual ministro da economia. Ele é comparado com o ministro da fazenda do governo Nazista pouco antes da guerra, com a frase “ruim com ele pior sem ele”. Eu discordo fortemente dessa avaliação.

Um livro bom e importante para entender o Brasil dos anos 2020/21.


Mais sobre Gustavo Franco:


Alguns trechos que destaquei:

“O Brasil ainda está preso a um anticapitalismo selvagem.”

“A oposição às reformas pró-mercado no Brasil tem uma longa história, um passado glorioso e um futuro promissor; era o que Roberto Campos dizia sobre a burrice nacional.”

“Não é de hoje que temos uma obsessão nacional por não balançar o barco e por contornar os assuntos que levam ao gás lacrimogêneo. Essa nossa cordialidade vai nos levando a versões leves e inofensivas das “reformas”, a maior parte delas, inclusive, admitimos abertamente fazer pela metade, por medo da encrenca; e outras, as mais transformadoras, vamos deixando para um “depois” bastante distante no tempo.”

“Deveríamos ter descoberto as melhores práticas (ESG, OCDE, investment grade, Doing Business) antes.”

“Em seu conjunto, o Império foi um desastre econômico. Portanto, não é a primeira vez que experimentamos uma estagnação prolongada sem perceber. A historiografia cultiva um olhar benigno sobre o Império, exaltando a estabilidade das instituições e sobretudo a preservação da unidade territorial, um contraste positivo considerando a vizinhança. Porém, é impossível dissociar o péssimo desempenho econômico do Império de uma equação política viciosa, da qual faziam parte não apenas a escravidão, como os impedimentos à livre iniciativa ricamente resenhados na agonia do Visconde de Mauá.”

“O “debate” acabou gerando contingentes relevantes de “hesitantes” diante da vacinação e bolsões de vulneráveis a doenças raras e evitáveis, que acabaram retornando, como o sarampo. Um “debate”, quando se trata de assunto de saúde pública, é questão muito séria para ser banalizada e tratada como mera diferença de opinião. Não é como o “debate” em assuntos de economia, boa parte do qual palavras ao vento.”

“As escolhas de estratégias de combate à pandemia por parte dos governos populistas foram trágicas. Essas respostas, em diferentes países, exibiram notável semelhança, o que sugere muita afinidade e, possivelmente, algum mecanismo de imitação/emulação e/ou mesmo de liderança, como se esses governos estivessem bebendo na mesma fonte.”

“É esse o contexto em que se verifica o avanço de um fenômeno que já vinha se firmando, o ataque sistemático à expertise ou à ideia do uso de conhecimento especializado para lidar com temas complexos. Essa morte da expertise é uma das consequências mais devastadoras do politicamente correto, originado pela esquerda, e pelos populismos de direita, ambos atacando o conhecimento especializado e a complexidade em muitos assuntos de políticas públicas, virando assim pelo avesso o incentivo à crítica, destruindo o mainstream e reabilitando todas as formas de saber alternativo, inclusive o fabricado para servir aos poderosos.”

“A pessoa não estúpida sempre subestima o poder destrutivo dos indivíduos estúpidos, sempre erra ao interagir com eles, que são os piores tipos, mais perigosos que os vigaristas, pois são erráticos e irracionais.”

“As famílias brasileiras vêm sendo dilaceradas pela política desde a Proclamação da República, conforme tradição inaugurada por Esaú e Jacó, romance de Machado de Assis de 1904, ano da Revolta da Vacina, sobre dois irmãos – Pedro, o médico monarquista, e Paulo, o advogado republicano – que amavam a mesma mulher. Desde então a política vem sistematicamente arruinando a harmonia familiar em almoços e jantares, todos gritam e ninguém come direito, sobretudo se o assunto é a intervenção do Estado no domínio da economia.”

Editora História Real, publicado em 26/05/2021 (256 páginas)

Referências: